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Basilique du Sacré Coeur

Basílica no topo de Montmartre com mosaicos impressionantes

imagem do Basilique du Sacré Coeur - slide 1

Tonchino

A Basilique du Sacré-Cœur é um dos monumentos mais conhecidos no mundo e é o segundo mais visitado de Paris pois recebe dois milhões de peregrinos ou turistas a cada ano. No entanto, poucos conhecem a tortuosa história dessa igreja e os múltiplos significados políticos, culturais e religiosos que a envolvem, em grande parte escondidos pelo tempo.

Motivo de intermináveis controvérsias, a igreja foi concebida do ponto de vista de conservadores, católicos devotos, reacionários e monarquistas como monumento expiatório diante dos “excessos” que vinham desde a Revolução Francesa e culminaram na Commune de Paris. Para socialistas, democratas e muitos republicanos radicais, a basílica representava “uma permanente provocação à guerra civil”, como foi proclamado durante apaixonados debates no Conselho Municipal em 1880. A discussão ainda se arrastava em 1882 na Câmara de Deputados, quando o arcebispo Guibert defendeu a obra e Georges Clemenceau a acusou de estigmatizar a Revolução Francesa. A lei que autorizava a construção da igreja acabou por ser derrubada, mas firulas técnicas permitiram o prosseguimento da obra, que escapou a mais uma tentativa de interdição em 1897. Com grande parte da obra concluída e servindo ao culto católico havia seis anos, a igreja tornou-se um fato consumado.

Para muitos historiadores da arte e arquitetos o monumento construído é um atentado ao bom gosto, seu estilo é um pastiche românico-bizantino que lembra um bolo-de-noiva e, de sua posição privilegiada, ofende a paisagem arquitetônica parisiense.

Do ponto de vista católico esse projeto representava o ressurgimento de uma ordem moral e social conservadora, contrária às mudanças conquistadas durante a Revolução Francesa de 1789 e a tudo de revolucionário que representou a Comuna de Paris de 1871. Alegava-se que seria dedicada ao “culto do Sagrado Coração de Jesus”, mas serviria também de revanche contra os Communards – militantes da Comuna, que haviam executado o arcebispo de Paris, Georges Darboy.

Atendendo à solicitação do novo arcebispo apresentada em carta do dia 5 de março de 1873, a Assemblée Nationale aprovou uma lei no dia 24 de julho que definia a obra como de “utilidade pública”. Os debates foram acalorados e agressivos, dentre os 734 deputados uma estreita maioria (382) votou a favor. O texto não o dizia explicitamente, mas era voz corrente que a igreja serviria “para expiar os crimes cometidos pela Comuna”. Os que se opunham ferrenhamente à obra, no entanto, não esqueciam os crimes cometidos pelos que haviam massacrado a Comuna: os milhares de communards fuzilados sem nenhum julgamento, os últimos resistentes que haviam sido soterrados vivos ali em Montmarte mesmo, quando foram dinamitadas as galerias subterrâneas das minas de gesso para nas quais haviam se refugiado, e outras barbaridades cometidas na tristemente célebre Semaine sanglante, entre os dias 21 e 28 de maio de 1871.

Mais de 70 projetos foram apresentados num concurso oficial. O vencedor, Paul Abadie, teve que respeitar algumasexigências: o local, a limitação dos custos à verba de sete milhões de francos, a inclusão de uma cripta e uma escultura monumental do Sagrado Coração, no lado externo, que tivesse ampla visibilidade. A construção teve início em 1875, mas as ásperas disputas e as discussões apaixonadas a arrastaram até 1914. A igreja só foi consagrada após o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1919, quando o tempo se encarregara de atenuar os conflitos que a obra havia atiçado.

A basílica tem o formato de cruz grega, ornada com quatro cúpulas, a mais alta com 83 m de altura. Em vez da tradicional “pierre de taille” usada em Paris, foi utilizado o travertino branco trazido de Château-Landon. Essa pedra exsuda constantemente calcita, o que permite que o edifício continue branco apesar das chuvas e da poluição.

No interior da igreja, o teto da abside central é decorado com um enorme mosaico, o maior na França, cuja instalação durou de 1900 a 1922. Os vitrais foram postos em 1903 e em 1920, destruídos durante bombardeios em 1944 e restaurados após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1946.

Grande parte da arte escultural que decora a igreja é da autoria de Hippolyte Jules Lefebvre, incluindo o altar e duas esculturas equestres, no exterior do edifício, que representam o rei Louis IX, mais conhecido como São Luís, e a heroína Jeanne d’Arc.

O órgão é de autoria de Aristide Cavaillé-Coll e pertencia ao Barão Albert de L’Espée, um grande apreciador do instrumento. Após a morte do Barão e venda do seu castelo, o órgão permaneceu guardado por dez anos até que foi transferido para a basílica, onde foi inaugurado em 1919 por Charles-Marie Widor, Marcel Dupré e Abel Decaux.