O nome Société des Cendres, Companhia das Cinzas, estampado na fachada é intrigante e provoca a imaginação até para observadores atentos que leem a inscrição "Fundição de ouro e prata, tratamento de cinzas, testes e análises". O edifício também é bem diferente dos palácios e mansões do Marais e tem uma chaminé de tijolos vermelhos com 35 metros de altura. Tudo se explica, no entanto, quando se sabe que o por trás da fachada austera, o galpão construído 1867 abrigou até 2002 uma pequena indústria que se dedicava a recuperar materiais preciosos entre os dejetos gerados nas manufaturas de joias e ourivesaria.
Para tratar esses valiosos restos, em 1859 os joalheiros decidiram criar a Société de Cendres, uma espécie de cooperativa, que se dedicaria a separar cuidadosamente as limalhas de ouro, prata ou platina que acabavam misturadas à poeira e outros dejetos durante o processo de fabricação de joias e objetos. Os clientes da cooperativa eram mais de 500 artesãos e especialistas em metais preciosos, que ao mesmo tempo eram sócios controladores.
Os clientes joalheiros chegavam com sacos de 50 quilos ou mais, contendo os dejetos que haviam coletado durante meses. Esses resíduos eram queimados, as cinzas eram depois trituradas e reduzidas a pó. Depois de peneirar e lavar o resíduo, era aplicado um tratamento à base de mercúrio que permitia aglomerar os materiais preciosos. Para que essa série de operações não desse prejuízo era necessário recuperar ao menos 250 gramas de ouro por cada saco de 50 quilos.
A Société des Cendres ainda existe mas mudou-se para fora de Paris. Na primeira década deste século tinha ainda cerca de 120 acionistas cooperados. Um vídeo interessante no Youtube apresenta a fábrica e uma entrevista no link https://www.youtube.com/watch?v=8rN5pBjxqUg. O edifício da rue des Francs-Bourgeois atualmente é ocupado por uma loja de vestuário.